Como avaliar se uma ação está cara ou barata: a fórmula do valor líquido contábil

Alguma vez te perguntaste se realmente estás a comprar uma ação a bom preço? A resposta nem sempre está no que vês na tela. Existe uma ferramenta fundamental na análise de investimentos que muitos operadores ignoram ou minimizam: o valor líquido contabilístico. Esta métrica é especialmente valiosa para identificar oportunidades que o mercado não está a valorizar corretamente, e é o pilar central da estratégia conhecida como value investing.

O contraste entre o que pagamos e o que realmente vale

Quando investes numa ação, frequentemente estás a pagar não só pelo que a empresa tem agora, mas também pelo que esperas que tenha no futuro. Esta é a razão pela qual o preço de mercado raramente coincide com o valor real refletido nos livros contabilísticos da companhia.

Consideremos um exemplo prático: uma ação pode ter um valor líquido contabilístico de 15 euros, mas cotar-se a 34 euros. Está justificado esse diferencial? Isso depende das tuas expectativas sobre o desempenho futuro da empresa e do setor. No entanto, é precisamente aqui que entra em jogo o conhecimento profundo de como calcular e interpretar estas métricas.

O que significa realmente o valor líquido contabilístico

Ao contrário do valor nominal de uma ação (que só se calcula no momento de emissão e considera apenas o capital social), o valor líquido contabilístico reflete os recursos próprios da empresa em qualquer momento da sua vida operacional. Trata-se essencialmente da soma do capital social mais todas as reservas acumuladas.

Este conceito também recebe o nome de “Valor em Livros” na literatura de investimento profissional. A sua relevância reside em que te permite ver, com dados tangíveis, qual é o património líquido que cada ação representa dentro da estrutura total da companhia. Através desta informação objetiva, os investidores value podem detectar empresas cujo preço na bolsa não reflete a sua solidez contabilística real.

A fórmula do valor líquido contabilístico: desglosando o cálculo

O procedimento para obter o valor líquido contabilístico é simples, embora exija acesso aos estados financeiros publicados pela empresa. A fórmula básica é:

Valor líquido contabilístico = Ativos - Passivos

Quando o aplicamos ao análise de ações individuais, dividimos esse resultado pelo número total de ações em circulação:

Valor líquido contabilístico por ação = (Ativos – Passivos) / Número de ações

Vamos colocar números reais: se uma empresa dispõe de 3.200 milhões em ativos, deve 620 milhões e tem 12 milhões de ações em circulação, o cálculo seria:

(3.200.000.000 – 620.000.000) / 12.000.000 = 215 euros por ação

Este é o valor contabilístico de cada título. Agora, se essa mesma ação se negocia a 84 euros no mercado, poderíamos estar perante uma oportunidade, ou se por outro lado se cotar a 600 euros, estaríamos perante um caso de sobrevalorização significativa.

A ratio P/VC: a tua bússola para detectar desequilíbrios

Depois de compreenderes como funciona a fórmula do valor líquido contabilístico, é hora de introduzir a ferramenta que integra esta métrica com o preço real: a ratio Preço/Valor Contabilístico (P/VC).

O cálculo é direto: divide o preço de mercado atual pelo valor líquido contabilístico por ação. Um resultado superior a 1 indica que o mercado está a pagar mais do que os livros dizem que a empresa vale, enquanto um resultado inferior a 1 sugere o contrário.

Vamos tomar duas empresas hipotéticas: ABC tem um valor contabilístico de 26 euros e cotiza a 84 euros (P/VC = 3,23), enquanto que XYZ tem um valor contabilístico de 31 euros mas cotiza apenas a 27 euros (P/VC = 0,87). Em teoria, XYZ apresenta uma relação preço-valor mais atrativa do ponto de vista de um investidor value.

Na prática bolsista, podemos ver estes ratios refletidos em plataformas especializadas. Acerinox, a empresa siderúrgica espanhola, tem mostrado historicamente ratios P/VC baixos, sugerindo infravalorização relativamente ao seu património contabilístico. Pelo contrário, Cellnex, empresa de infraestruturas de telecomunicações também espanhola, apresenta tipicamente ratios mais elevados, indicando uma cotação superior ao seu valor em livros.

Como se comporta o valor líquido contabilístico na teoria versus a realidade

O valor líquido contabilístico constitui um dos pilares da análise fundamental, diferenciando-se claramente da análise técnica que se baseia em padrões históricos de preço. No entanto, é crucial entender as suas limitações.

A primeira limitação significativa é que ignora completamente os ativos intangíveis. Isto torna-se especialmente problemático no setor tecnológico e biotecnológico, onde uma plataforma de software pode ter um custo de desenvolvimento relativamente baixo mas gerar receitas massivas. O P/VC destas empresas costuma ser consideravelmente mais alto que a média de outros setores, não necessariamente porque estejam sobrevalorizadas, mas porque a métrica não captura o valor real da sua propriedade intelectual.

Além disso, a métrica funciona mal com empresas de pequena capitalização. Estas companhias tendem a ser de criação recente, pelo que o seu património contabilístico está longe das suas ambições de crescimento e rentabilidade futura.

Existe também o risco da “contabilidade criativa”, termo que descreve o uso de técnicas legais mas enviesadas para maquilhar os resultados: sobrevalorizar ativos e subavaliar passivos. Um balanço manipulado pode conduzir-nos a conclusões completamente erradas sobre a verdadeira solidez da empresa.

O caso mais emblemático no mercado espanhol foi a saída à bolsa da Bankia em 2011. Naqueles momentos, o banco cotizava com um desconto de 60% relativamente ao seu valor contabilístico, o que deveria parecer uma oportunidade extraordinária sob a ótica do value investing. No entanto, posteriormente, a entidade sofreu um desempenho catastrófico que terminou na sua absorção pelo Caixabank em 2021. Este exemplo ilustra de forma contundente que um baixo ratio P/VC não garante de modo algum um comportamento futuro positivo.

O lugar correto para esta métrica no teu análise de investimento

O valor líquido contabilístico deve ser considerado como um componente mais da análise fundamental, nunca como o único critério de decisão. Dentro desta análise mais ampla, devemos também considerar:

  • As condições macroeconómicas do ambiente
  • O posicionamento competitivo da empresa dentro do seu setor
  • A qualidade da gestão e o seu histórico
  • As perspetivas de crescimento real das receitas
  • O estado da dívida e a sustentabilidade do balanço

Só quando todas estas variáveis se alinharem favoravelmente, e o valor líquido contabilístico também sugerir uma infravalorização (P/VC abaixo de 1), então temos uma confluência de sinais que pode justificar uma decisão de compra fundamentada.

Em conclusão, dominar o cálculo e a interpretação da fórmula do valor líquido contabilístico é uma competência essencial para qualquer investidor sério, mas deve sempre ser combinado com uma análise exaustiva da situação global da empresa e das suas perspetivas competitivas reais.

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